A Face do Desespero
É já no próximo dia 18 de Março que a HBO Portugal vai estrear Zack Snyder's Justice League, o filme há muito pedido pelos fãs e finalmente anunciado no ano passado. Depois do fracasso que foi o cut apresentado nos cinemas, praticamente todo ele realizado por Joss Wheadon (Marvel's The Avengers), e no meio de todo o caos provocado pela estreia desse filme Zack Snyder tem a hipótese de redenção em mostrar, ainda que parcialmente, a sua visão para o Universo Cinematográfico da DC. Em comemoração disso mesmo decidi fazer uma pequena ronda pelos filmes que Snyder realizou para a DC, mas em vez de me focar nos filmes em si quero partir de uma abordagem diferente, aquilo que mais apreciei nos filmes em questão: os vilões. Até porque Batman v Superman foi abordado aqui no blog, até mais que uma vez e Man of Steel esteve durante muito tempo na calha para ser abordado. Pois bem, é de Man of Steel que se vai falar hoje...ou melhor, do homem que o quer matar.
Hoje em dia temos por hábito perguntar porque é que os vilões hoje são diferentes do que eram há vinte ou trinta anos, os vilões bidimensionais dos anos 70 e 80 não funcionam no espectro cinematográfico dos dias que correm. Já não criam dinâmicas interessantes para as plateias actuais, o storytelling evoluiu e hoje em dia pedimos mais dos escritores e realizadores. Neste contexto, por exemplo, Darth Vader como nos é apresentado na trilogia original de Star Wars. É, nos tempos de hoje, um vilão bidimensional e vai ter direito a ser esmiuçado em breve. É também, deste mesmo modo, que personagens como Joker em The Dark Knight ou Thanos no MCU funcionam. Criam conflito na audiência.
É aqui que chegamos a Zod. Nos comics é um dos principais antagonistas do Superman, e provavelmente o mais bem construído da sua galeria de vilões. Apesar disso, em cinema, a sua adaptação ficou sempre um pouco aquém. Não que fosse mau, antes pelo contrário. Mas sempre um pouco "cartoonesca", devido também à forma como os filmes de super-heróis eram feitos. Com Man of Steel, Zack Snyder introduz o vilão antes do protagonista. Zod (Michael Shannon) é-nos apresentado como um líder militar encarregado de proteger Krypton e que, à beira da destruição, lidera um motim numa tentativa desesperada de salvar o seu planeta. Quando percebe que Jor-El (Russel Crowe) teve um filho que nasceu de parto natural, contrariamente aquilo que é a tradição de os bebés serem criados com um pressuposto pré-determinado, Zod descontrola-se. A sua missão, ou função se preferirem, não está a ser cumprida e ele não é capaz de lidar com esses falhanço. Essa questão é-nos mostrada de uma forma muito óbvia. Kal-El (Henry Cavill), o filho natural de Jor-El, é misturado com o codex kryptoniano (uma "base de dados" que contém todos os ADN dos habitantes do planeta) e é lançado numa nave em busca de um planeta onde este possa crescer e continuar o legado do seu povo. Zod, descontrolado, mata Jor-El e é condenado a passar a eternidade confinado à Phantom Zone.
Depois disto o filme fixa-se em como, na Terra, Kal-El se torna Clark Kent e como este se adapta a um planeta diferente. Estando eternamente numa luta interna entre o seu eu real e o eu superficial. Ficamos a conhecer as bússolas morais de Clark: Jonathan Kent (Kevin Costner) e Lois Lane (Amy Adams). É também um ponto de viragem na história, Clark acciona uma antiga nave kryptoniana e "reencontra" o seu povo e o seu pai. Isto faz com que Zod saiba onde o procurar, depois de ter sido libertado da Phantom Zone devido à destruição do seu planeta.
Zod chega à Terra com toda a pompa e circunstância, não hesitando mostrar ao que vem: entreguem-me Kal-El e nada vos vai acontecer. Clark dá-se a braços com uma decisão enorme e importante: salvar o planeta que o acolheu ou restaurar os costumes do planeta que o viu nascer. Quando Kal recusa, Zod perde a última réstia de sanidade que tem e decide restaurar Krypton à força, matando Clark pelo meio. No final e já derrotado, Zod, recusa render-se e volta a apresentar uma escolha a Clark, tentando matar uma família que procura abrigo. Clark suplica a Zod que pare mas vê-se obrigado a matá-lo para salvar as pessoas em perigo. Uma decisão que claramente Kal não estava pronto para tomar, gritando em agonia imediatamente a seguir.
Zod é mais do que um vilão. Zod, neste filme, é protagonista de uma história aparentemente paralela mas que está em rota de colisão com a de Clark. É um personagem que vê a sua realidade destruída, a sua vida completamente tirada debaixo dos seus pés e que tenta com todas as suas forças para restaurar a normalidade que lhe foi incutida desde cedo. É, acima de tudo também, um personagem nitidamente humano. Vemos raiva, desespero, esperança, confiança, compaixão, camaradagem nos seus olhos. Independentemente se concordamos ou não com as suas intenções, como audiência acabamos por deixar-nos levar pelo seu percurso e de certa forma entristece ver como a vida pode levar-nos a tomar decisões desesperadas.
Uma palavra de apreço também pelo seu braço direito e segundo em comando, Faora-Ul (Antje Traue). Que à semelhança de Zod é uma personagem que tem a sua missão pré-determinada e, como militar, a sua única função é proteger Krypton. Se para salvar o seu planeta é preciso matar Clark é isso mesmo que vai fazer.
É inegável a componente humana que existe nestes antagonistas. E é por isto mesmo que nós gostamos de cinema.
O próximo na lista é Lex Luthor em Batman v Superman. Até lá, boa semana.
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