Cruella: Um Ás na Manga da Disney

 Cruella não consegue responder à questão de porque é que a Disney haveria de achar que a personagem necessitava de uma história de origem, mas ficamos satisfeitos no final e ficamos com o filme na cabeça durante algum tempo.


O filme não tem nada de revolucionário, não tem nada que vá alterar o cinema como o conhecemos. Mas o trunfo deste filme passa pela sua soberba execução, desde a pré-produção à pós-produção. Emma Stone comprovou ser aposta ganha e tem aqui um dos seus melhores papéis até ao momento. Craig Gillespie consegue encontrar o balanço entre os diversos géneros e referências que temos no filme, especialmente tendo em conta que o filme tem lugar em Londres dos anos 70.


Antes da estreia, e pelos trailers, muitos compararam Cruella a uma tentativa da Disney em copiar o que Todd Phillips e Joaquín Phoenix conseguiram com Joker para a DC. Uma conclusão algo precipitada mas não, de todo, infundada. O setting é semelhante e a forma como vemos a cidade (Londres e Gotham nos anos 70) é também parecida. Também temos a demonstração de um indivíduo com uma balança moral calibrada que está à procura do seu lugar no mundo cruel e a tentativa de criar empatia com um claro anti-herói que quebra o status-quo social. Até o plot twist é parecido em ambas as situações. A forma como ambos os filmes abordam este tema diferem como dia e noite - enquanto um explora os estratos mais baixos da sociedade o outro ataca de cabeça a mais fina flor da sociedade londrina.


Cruella junta nas suas duas horas de filme uma série da tiques e toques que relembram uma série de realizadores clássicos desde Martin Scorcese a Robert Zemeckis. A escolha dos planos é do melhor que tenho visto nos live-action da Disney e vemos perfeitamente o quão grande foi o gamble do gigante americano na produção do filme, uma história nitidamente mais dark e direito ao desconhecido. Tenta sempre fugir um pouco ao final feliz, ao triunfo do herói. Não é, portanto, de estranhar que Emma Stone (Cruella) e Emma Thompson (Baroness, a vilã) se tenham já dado como disponíveis para regressar numa sequela estilo The Godfather II.


A escolha da fantástica banda sonora só vem melhorar a experiência, com uma série de temas famosos que marcaram a década de 70 - uma década marcada por profundas mudanças sociais no oeste. Entre o leque temos temos Nancy Sinatra, The Rolling Stones e Led Zeppelin a formar uma autêntica cacofonia de rock e punk marcante e que encaixa que nem uma luva na fita.


Isto comprova que a Disney não precisa de comprar outras empresas para produzir conteúdos mais adultos, comprova que consegue com sucesso entrar nesse mercado sem desvirtuar aquilo que já é conhecido do seu portfólio.


Se Joker foi uma inspiração...tenho dúvidas. Especialmente dado que a produção dos filmes foi simultânea durante muito tempo. Mas que há semelhanças e que abrem o caminho a novas adaptações de qualidade...isso abrem.



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