A Sede de um Sociopata

 Num filme profundamente prejudicado pela série de más decisões tomadas tanto pelo estúdio como pela equipa de realização, Lex Luthor surge como uma das coisas positivas do filme, principalmente pela excelente interpretação de Jesse Eisenberg.


Antes disso uma nota prévia, que de prévia pouco tem. Depois de duas análises ao filme aqui e de repetidas sessões de visualização dele em casa no conforto do sofá cheguei a uma bonita conclusão. Batman v. Superman devia ter sido uma sequela de Man of Steel. Aceito que as principais figuras do filme fossem as mesmas mas podia e devia ter tido um rumo profundamente diferente. Introduzir Batman como sendo o antagonista seria uma forma eficaz de demonstrar a forma como o cavaleiro das trevas tinha perdido o seu compasso moral ao fim de 20 anos a lutar contra o crime em Gotham, dado que a timeline do filme não é como vemos habitualmente em que Superman e Batman coexistem com relativamente o mesmo tempo de experiência. Zack Snyder retirou muita inspiração de The Dark Knight Returns e é daqui que vem esta minha conclusão.


Mas estou a divagar...


Alexander Luthor Jr., ou Lex Luthor como conhecemos, é apresentado como um jovem abastado CEO de uma megacorporação deixada pelo seu pai. Um pai que abusava e o agredia em criança, como o próprio Lex refere em diversas alturas. Esta não é uma incarnação de Luthor que estamos habituados a ver e a ler. Ainda é um miúdo a braços com narcisismo e uma profunda sociopatia embora já veja Kal-El como uma ameaça à segurança do mundo e da humanidade. Este é consistentemente o seu objectivo, independentemente dos meios.



Utilizando os seus intermináveis recursos consegue encontrar e extrair as pedras de kryptonite deixadas pela nave de Zod e consegue acesso à nave kryptoniana e ao corpo de Zod destruída em Metropolis. Não conseguindo convencer as autoridades de que Kal-El é perigoso orquestra também uma campanha de medo contra ele, aproveitando o medo geral que se criou depois da batalha entre Superman e Zod. É também desta forma que convence Bruce Wayne de que a presença do Superman é um perigo para a humanidade. Pelo caminho tenta também descobrir se Clark é caso único ou se haverá mais meta-humanos no planeta e embarca numa missão de descobrir quem são. É aqui que descobre Wonder Woman, Aquaman, Flash e Cyborg, que virão a fazer parte da Liga da Justiça.


Nem quando Batman toma posse da kryptonite e das informações, Lex desiste. Pelo meio encena uma explosão no Capitólio em Washington DC, fazendo parecer que o autor foi Clark que estava no interior a ser questionado por senadores dos EUA. Mesmo quando o seu plano de ter Batman e Superman lutarem até à morte falha, Lex tem sempre outro ás na manga.


Em desespero utiliza o seu privilégio de ter acesso ao corpo de Zod para criar o maior monstro possível de imaginar: Doomsday. Outro antoginista clássico do Superman... No final, e de um certo ponto de vista, o plano de Lex Luthor tem sucesso. Para derrotar Doomsday Clark sacrifica a sua vida. Sim, Lex acaba na prisão mas Superman está morto. O plano teve sucesso.


A interpretação sofreu críticas mas na minha visão isso deve-se mais a muitas das decisões que referi no início. Até porque os ingredientes principais do personagem estão lá. Este Lex Luthor demonstra perfeitamente como um jovem com traços sociopatas vive numa sociedade global, especialmente com recursos infinitos e sem acompanhamento psicológico.


Ainda assim podia ter sido melhor. Tornando BvS uma sequela de Man of Steel tendo Batman como antagonista principal (pelo menos na primeira metade), Lex podia ter sido desenvolvido com um pouco mais de calma e paciência. Podia ter tido espaço para um character study, como em Joker por exemplo. No final o que tivemos, e apesar dos pontos positivos, três personagens icónicos com pouca ou fraca caracterização. E alguns destes problemas nem a Ultimate Edition resolve...infelizmente.


A Liga da Justiça de Zack Snyder chega dia 18, 'tá quase!

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